segunda-feira, 30 de abril de 2012

Biografia Monteiro Lobato




Biografia


José Renato Monteiro Lobato que, mais tarde resolveu mudar seu nome para José Bento Monteiro Lobato, nasceu em 18 de abril de 1882, em Taubaté, no Vale do Paraíba (interior de São Paulo), o mesmo já demonstrava gosto pela leitura e pela escrita desde os tempos de escola, escrevendo para jornaizinhos acadêmicos quando adolescente.
            Perdeu o pai aos 15 anos e a mãe, aos 16. Seguindo a vontade do avô,
concluiu os estudos e cursou Direito na Faculdade do Largo São
Francisco, em São Paulo.
Foi nomeado promotor público na cidade de Areias, no interior do estado, mas não exerceu a função por muito tempo. Após a morte do avô, mudou-se para Buquira (hoje Monteiro Lobato), para morar em uma fazenda que herdara.
Ali iniciou sua projeção como grande escritor. Com base em personagens reais, criou o mundo fantástico do Sítio do Pica-Pau Amarelo e fez a denúncia da exclusão social com artigos para o jornal O Estado de S.
Paulo. Esses textos, protagonizados pela figura de Jeca Tatu, formariam seu  primeiro livro Urupês, em 1918.
Entediado com a vida na fazenda e sem o rendimento esperado, vendeu a propriedade e comprou a Revista do Brasil, abrindo espaço para novos nomes da literatura mostrarem seu trabalho. Com o grande fluxo de
trabalhos, o negócio cresceu e virou editora, mas fechou as portas anos
mais tarde, em 1925, devido à crise da indústria nacional e clima político instável da época.
Após um breve período nos Estados Unidos a serviço do governo de
Washington Luís voltou para o Brasil e iniciou uma luta em defesa do petróleo e do ferro com forte cunho nacionalista e crítico ao governo de Getúlio Vargas, o que lhe rendeu três meses na cadeia em 1940, além da apreensão e destruição de algumas obras à venda.
Em meio a um clima político pesado e sob a censura, Monteiro Lobato se aproximou dos comunistas liderados por Luís Carlos Prestes. Foi à
Argentina lançar alguma de suas obras e voltou ao país em 1947. Faleceu no ano seguinte, aos 66 anos, vítima de um derrame, deixando como herança mais de 30 livros publicados, uma obra reverenciada até hoje.


A coruja e a águia — fábula, texto de Monteiro Lobato

12 04 2011
A águia e a coruja, ilustração de J. J. Grandville.
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A coruja e a águia


                                                      Monteiro Lobato

Coruja e águia , depois de muita briga resolveram fazer as pazes.
– Basta de guerra — disse a coruja.  –  O mundo é  grande, e tolice maior que o mundo é andarmos a comer os filhotes uma da outra.
– Perfeitamente — respondeu a águia. — Também eu não quero outra coisa.
– Nesse caso combinemos isso:  de ora em diante não comerás nunca os meus filhotes.
– Muito bem.  Mas como posso distinguir os teus filhotes?
– Coisa fácil.  Sempre que encontrares uns borrachos lindos, bem feitinhos de corpo, alegres, cheios de uma graça especial, que não existe em filhote de nenhuma outra ave, já sabes, são os meus.
– Está feito! — concluiu a águia.
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Ilustração francesa.
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Dias depois, andando à caça, a águia encontrou um ninho com três monstrengos dentro, que piavam de bico muito aberto.
– Horríveis bichos! — disse ela.  — Vê-se logo que não são os filhos da coruja.
E comeu-os.
Mas eram os filhos da coruja.  Ao regressar à toca a triste mãe chorou amargamente o desastre e foi justar contas com a rainha das aves.
– Quê?  — disse esta admirda.  — Eram teus filhos aqueles monstrenguinhos?  Pois, olha não se pareciam nada com o retrato que deles me fizeste…
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Para retrato de filho ninguém acredite em pintor pai.  Lá diz o ditado: quem o feio ama, bonito lhe parece.


Em:  Fábulas, Monteiro Lobato, São Paulo, Brasiliense, s/d, 20ª edição.

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Esta fábula de Monteiro Lobato é uma das dezenas de varições feitas através dos séculos da fábulas de Esopo, escritor grego, que viveu no século VI AC.  Suas fábulas foram reunidas e atribuídas a ele, por Demétrius em 325 AC.  Desde então tornaram-se clássicos da cultura ocidental e muitos escritores como Monteiro Lobato, re-escreveram e ficaram famosos por recriarem estas histórias, o que mostra a universalidade dos textos, das emoções descritas e da moral neles exemplificada.  Entre os mais famosos escritores que recriaram as Fábulas de Esopo estão Fedro e La Fontaine.
               O cavalo e o burro, fábula, texto de        Monteiro Lobato
25 06 2009
O Cavalo e o burro, ilustração de Frances Barlow, metade do século XVII.

O cavalo e o burro
                                                                                              Monteiro Lobato
O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade.  O cavalo contente da vida, folgando com uma carga de quatro arrobas apenas, e o burro — coitado!  gemendo sob o peso de oito.  Em certo ponto, o burro parou e disse:
– Não posso mais!  Esta carga excede às minhas forças e o remédio é repartirmos o peso irmãmente, seis arrobas para cada um.
O cavalo deu um pinote e relichou uma gargalhada.
– Ingênuo!  Quer então que eu arque com seis arrobas quando posso tão bem continuar com as quatro?  Tenho cara de tolo?
O burro gemeu:
– Egoísta,  Lembre-se que se eu morrer você terá que seguir com a carga de quatro arrobas e mais a minha.
O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso.  Logo adiante, porém, o burro tropica, vem ao chão e rebenta.
Chegam os tropeiros, maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas do burro sobre as quatro do cavalo egoísta.  E como o cavalo refuga, dão-lhe de chicote em cima, sem dó nem piedade.
– Bem feito!  exclamou o papagaio.  Quem mandou ser mais burro que o pobre burro e não compreender que o verdadeiro egoísmo era aliviá-lo da carga em excesso?  Tome!  Gema dobrado agora…
***
Em:  Criança Brasileira, Theobaldo Miranda Santos, Quarto Livro de Leitura: de acordo com os novos programas do ensino primário.  Rio de Janeiro, Agir: 1949.
VOCABULÁRIO:
Folgando: descansando, alegrando-se; excede: ultrapassa; arque: aguente; tropica: tropeça; maldizem: lamentam; refuga: rejeita.



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